Compliance ainda é visto por muitos como o setor do “não pode”, um freio para os negócios, mas essa visão está ultrapassada. O mercado já percebeu que o compliance precisa pensar além de normas e controles: deve ser um pilar estratégico, ajudando a garantir crescimento sustentável sem ignorar riscos e sem comprometer a integridade. A evolução natural do compliance é sair do papel de barreira para se tornar parte da solução. As empresas já percebem que o compliance deve gerenciar riscos de forma estruturada e construir caminhos sustentáveis para crescer de forma ética e transparente.
Há casos que a resposta será sempre “não”: os que violam a ética, a moral e as normas.
O compliance eficaz não se resume a normas e treinamentos obrigatórios, mas está diretamente ligado à cultura organizacional, à governança e à estratégia da empresa.
O Novo Papel do Compliance: Integração, Pessoas e Negócio
O modelo tradicional de compliance segmentado e reativo foi muito importante, mas ficou para trás. Hoje, ele precisa ser um aliado da gestão, participando ativamente da tomada de decisões. Vejamos o exemplo dos EUA: sua influência reforça a importância do compliance estratégico. Recentemente o seu presidente determinou a suspensão e revisão dos processos baseados no FCPA, o que poderia indicar um relaxamento nos controles anticorrupção. No entanto, empresas com governança forte continuam seguindo altos padrões de integridade, independentemente de mudanças regulatórias. Elas mantêm boas práticas de compliance porque sabem que a integridade do mercado é essencial para a confiança dos investidores e a sustentabilidade dos negócios, independentemente das exigências regulatórias, que continuam a existir em diversos países.
E para isso o compliance tem papel fundamental ao integrar ética, negócio, riscos e governança.
O que isso significa na prática?
- Compliance como parceiro estratégico: O setor precisa estar inserido nas discussões de negócio, ajudando a encontrar soluções éticas, viáveis e seguras sempre que possível, mas também garantindo que práticas inaceitáveis sejam identificadas e evitadas.
Exemplo: Uma fintech quer lançar um novo produto financeiro, mas há dúvidas sobre os riscos regulatórios. Em vez de barrar o projeto, o compliance deve trabalhar com a equipe para estruturar um modelo de negócio que atenda às exigências e garanta segurança jurídica.
- Foco em pessoas: Nenhuma regra se cumpre sozinha. A integridade da organização depende das pessoas que tomam decisões no dia a dia. O compliance precisa trabalhar diretamente na formação de uma cultura sólida, inserindo ao máximo a ética na vida das pessoas.
Exemplo: A empresa XPTO, do setor farmacêutico, proíbe o recebimento de presentes, incluindo viagens. Um fornecedor convida um diretor para palestrar em um congresso estratégico para a empresa. Em vez de simplesmente negar, o compliance avalia a situação e recomenda a participação, desde que a XPTO arque com todos os custos, garantindo independência. A decisão final cabe à alta liderança, com base nas diretrizes éticas da empresa. Além disso, o diretor assina um termo de compromisso para reforçar sua imparcialidade e o compliance conduz uma análise de impacto reputacional.
Apoio à inovação: Empresas inovam para crescer, mas o risco é parte do processo. Um bom compliance não bloqueia a inovação, mas encontra maneiras éticas de viabilizá-la sem comprometer a governança e a segurança.
Exemplo: Uma startup de tecnologia quer expandir para mercados internacionais, mas precisa garantir que não estará exposta a riscos regulatórios. O compliance antecipa esses desafios e propõe soluções que permitam a sua expansão com riscos controlados.
Isso tudo muda a forma como compliance deve atuar no dia a dia. Em vez de continuar sendo setor burocrático, precisa estar próximo das lideranças, entender os desafios reais do negócio, reanalisar os riscos, descobrir mitigadores e sugerir a sua imediata aplicação.
Com isso, o compliance deixa de ser apenas um setor que nega para assumir um papel ativo na construção de soluções viáveis.
Governança e Conselhos: O Papel Central na Mudança
Os conselhos de administração e lideranças empresariais têm um papel fundamental nessa evolução. Eles precisam garantir uma governança sólida que suporte e fortaleça a atuação estratégica do compliance. O mero cumprimento de exigências regulatórias não deve ser o foco do compliance, mas a forma correta de viabilizar o negócio.
Isso significa que os conselhos devem:
- Exigir que compliance participe das discussões estratégicas, evitando que seja apenas um setor reativo.
- Monitorar se a área de compliance está integrada aos demais setores e se de fato contribui para a cultura da empresa.
- Avaliar como as diretrizes de compliance impactam a inovação e o crescimento, garantindo um equilibro entre governança e resultado.
Exemplo 1: Um conselho de uma grande varejista percebe que seus fornecedores estão envolvidos em práticas duvidosas. Em vez de simplesmente proibir contratos, o conselho determina que o compliance atue no engajamento desses fornecedores, oferecendo suporte para que eles se adequem aos padrões da empresa sem comprometer a operação.
Exemplo 2: Uma empresa do setor energético quer diversificar sua matriz e investir em energias renováveis, mas enfrenta desafios regulatórios e operacionais. Em vez de barrar a iniciativa por conta dos riscos, o conselho determina que o compliance trabalhe junto à equipe técnica para mapear os requisitos legais, estabelecer processos internos compatíveis com as novas demandas e garantir que a transição ocorra sem impactos negativos para a empresa e seus stakeholders.
Sem esse envolvimento do alto escalão, compliance continuará sendo visto como um entrave em vez de uma solução.
O Diferencial de Estar Um Passo à Frente
Essa nova visão de compliance é algo que defendo há tempos. A ideia de que o compliance precisa ser estratégico, integrado ao negócio e focado em pessoas já faz parte do meu trabalho há anos.
Quem entender essa mudança e souber aplicá-la estará um passo à frente. A governança empresarial evolui sempre e assim deve ser o compliance. Precisa acompanhar esse movimento e agregar valor real ao negócio corporativo.
O futuro do compliance está na orientação e não na proibição. O “não pode” deve ser substituído pelo “como fazer certo”. Empresas que entendem essa mudança mitigam riscos, fortalecem sua governança, ampliam oportunidades de negócio e garantem crescimento sustentável.”



