Teu melhor amigo é o que te diz “não”

Por: Dercio Carvalhêda 28 de maio de 2025

Quem te confronta, ter protege.

“Você está errado.”

Ouvi isso de um dos meus subordinados enquanto chefiava uma delegacia da Polícia Federal. Não falou com arrogância. Falou com coragem.

Eu podia ter ignorado, mas não ignorei.

E aquela frase me salvou de um erro que poderia custar minha reputação.

Já CEOs, fundadores e executivos em geral, raramente, têm alguém que lhes diga “não”.

E, quando encontram quem diz, muitas vezes não querem ouvir.

Só que isso alimenta um risco que pode destruir uma reputação construída durante anos.

Todo líder quer apoio. É natural. É humano. Mas o que uma empresa precisa é: tensão produtiva, debate estratégico e responsabilidade compartilhada.

E é por isso que um conselho não pode ser formado por amigos, bajuladores ou ex-sócios em dívida de gratidão.

Tem que ter aquela pessoa incisiva, teimosa até, que parece pedante — mas tem a coragem de jogar a verdade na sua cara.

O IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa é claro ao afirmar que a governança não serve apenas para organizar o poder, mas para equilibrá-lo. E esse equilíbrio só existe quando há autonomia, diversidade de pensamento e coragem para contrariar.

Tive essa experiência na prática, ainda na época em que chefiava uma delegacia da Polícia Federal.

Mantive ao meu lado, durante anos, exatamente quem mais discordava de mim. Não por masoquismo, mas porque ali estava o meu alerta antecipado.

Visões diferentes me obrigavam a repensar decisões. E decisões repensadas tendem a ser mais sólidas.

É curioso como, até hoje, vemos empresários contratando conselhos “para inglês ver”, como se fossem selos de maturidade.

Mas, na prática, o que querem é alguém que assine embaixo de decisões já tomadas.

Se o conselho nunca te confrontou, te fez repensar ou apontou riscos que você não queria ver…

Você não tem um conselho. Você tem plateia.

E plateia não segura reputação em crise.

Publicado em: 28 de maio de 2025 por