Princípios de uma Investigação Corporativa Eficiente

Por: Dercio Carvalhêda 4 de dezembro de 2024

Em qualquer processo investigativo, especialmente no ambiente corporativo, há uma linha tênue entre a eficiência técnica e a integridade ética. É uma percepção que carrego desde os tempos em que conduzia investigações criminais e que se reforça hoje enquanto especialista em compliance, investigador corporativo e advogado de defesa e investigador defensivo. Métodos e ferramentas são importantes para a execução de uma boa investigação, mas a sustentação ética e jurídica, que garante sua legitimidade e eficácia, é encontrada nos princípios.

Sempre se fala em princípios, mas, afinal, o que realmente são princípios? Por que eles são tão fundamentais no contexto de investigações corporativas?

O que são princípios?

Princípios são os fundamentos éticos, normativos e conceituais que orientam a tomada de decisões e a execução de atividades. Diferente das regras ou procedimentos, que ensinam “como” fazer”, os princípios respondem ao “por quê”. Assim, eles transcendem às regras específicas e procedimentos técnicos. Funcionam como guias universais que asseguram ética, coerência, moralidade e legitimidade nas atividades.

Nas investigações corporativas, os princípios norteiam o comportamento dos envolvidos e estabelecem os parâmetros para avaliar se a investigação foi conduzida de forma justa, ética e eficaz. Sem princípios claros, corre-se o risco de que métodos sejam aplicados de maneira arbitrária ou que os resultados sejam comprometidos por interesses externos.

Investigações guiadas por princípios sólidos protegem a organização, os indivíduos envolvidos e até mesmo os investigadores. Os princípios promovem a ética, a confiança, a justiça e o aprendizado organizacional.

Abaixo, exploramos os dez princípios essenciais que fundamentam uma investigação corporativa eficiente.

1. Integridade

A integridade é o pilar central de uma investigação eficiente. Significa conduzir o processo de maneira ética, sem manipular fatos, ocultar evidências ou fabricar conclusões. Um processo investigativo íntegro busca a verdade, independentemente de pressões internas ou externas.

Na prática:

  • Jamais sacrificar a ética em nome da conveniência ou do benefício organizacional.
  • Garantir que todos os envolvidos compreendam e sigam padrões de conduta claros.

2. Imparcialidade

A imparcialidade exige que a investigação seja realizada sem preconceitos ou interesses diversos da busca pela verdade. Os investigadores devem estar livres de qualquer influência que possa distorcer a análise dos fatos.

Na prática:

  • Selecionar equipes isentas de conflitos de interesse.
  • Evitar pré-julgamentos, mantendo um olhar objetivo sobre as evidências.

3. Confidencialidade

Manter o sigilo é crucial. Informações vazadas podem comprometer a investigação, causar danos irreparáveis à reputação da empresa, aos investigadores e, muitas vezes, à vida das pessoas envolvidas.

Na prática:

  • Controlar rigorosamente o acesso às informações.
  • Firmar compromissos de sigilo com todos os envolvidos.

4. Legalidade

A investigação deve respeitar as leis locais. Métodos ilegais, como invasão de privacidade ou obtenção de provas de forma ilícita, ou antiéticos podem invalidar os resultados e expor a empresa a riscos legais.

Na prática:

  • Consultar especialistas legais para garantir conformidade.
  • Revisar periodicamente os procedimentos à luz de alterações legislativas.

5. Transparência

Embora a confidencialidade seja crucial, é igualmente importante que as conclusões da investigação sejam apresentadas de forma clara e fundamentada. A transparência fortalece a confiança da alta administração e das partes interessadas. Confidencialidade não é sinônimo de obscuridade.

Na prática:

  • Elaborar relatórios objetivos e acessíveis.
  • Informar partes interessadas sobre progressos relevantes, sem comprometer o sigilo.

6. Objetividade

A objetividade assegura que as conclusões sejam baseadas apenas em fatos verificáveis, e somente em fatos. Não há espaço para interpretações subjetivas ou emocionais. A análise deve ser rigorosa e metodologicamente sólida.

Na prática:

  • Utilizar dados e evidências para fundamentar decisões.
  • Não fazer interpretações que extrapolem o que as provas permitem afirmar.

7. Proporcionalidade

As ações durante a investigação devem ser proporcionais à gravidade dos fatos. Isso significa evitar medidas desnecessárias ou excessivas que possam prejudicar os direitos das pessoas ou gerar custos desproporcionais à organização.

Na prática:

  • Avaliar continuamente o impacto das ações investigativas.
  • Ajustar o escopo da investigação conforme novos fatos surjam.

8. Celeridade

Tempo é um recurso valioso em qualquer investigação. A demora pode comprometer a qualidade das provas, ampliar os danos à empresa e afetar a confiança dos envolvidos. Celeridade não é sinônimo de pressa: é agir com eficiência e responsabilidade, porém não se sacrifica a qualidade em favor da celeridade. A celeridade faz parte da qualidade.

Na prática:

  • Estabelecer prazos realistas e monitorá-los rigorosamente.
  • Priorizar ações com maior impacto para acelerar a solução.

9. Prevenção e Aprendizado

Uma investigação não termina com o relatório final. Ela deve servir como base para a prevenção de problemas futuros e o fortalecimento da governança organizacional.

Na prática:

  • Identificar vulnerabilidades sistêmicas e recomendar melhorias.
  • Transformar lições aprendidas em políticas e treinamentos.

10. Responsabilidade

A responsabilidade, ou accountability, é essencial para garantir que a investigação seja conduzida de forma responsável. Isso significa que todas as decisões, métodos e resultados precisam ser bem documentados e que os envolvidos estejam prontos para prestar contas.

Na prática:

  • Registrar todas as etapas da investigação e atentar à cadeia de custódia.
  • Estar preparado para responder a questionamentos internos ou externos.

Concluindo…

Os princípios de uma investigação corporativa eficiente não são meras abstrações. Eles são os pilares que sustentam um processo justo, ético e confiável. Mesmo com (na verdade principalmente por conta disso) a crescente complexidade nos ambientes corporativos, a prática desses princípios é uma questão de sobrevivência organizacional.

Que princípios sua organização segue para conduzir investigações? Deixe sua opinião nos comentários!

Publicado em: 4 de dezembro de 2024 por