O que acontece com aquela empresa bem-sucedida criada por um fundador visionário? Na primeira geração, tudo parece funcionar. Na segunda, começam os desafios. Na terceira, estatisticamente, a maioria já não existe mais.
O que deu errado? Vamos responder aqui algumas (e maioria esmagadora) das possibilidades.
Empresas familiares representam uma parcela significativa do mercado brasileiro e são responsáveis por grande parte da geração de empregos e inovação no país. No entanto, sua longevidade é um desafio: muitas não sobrevivem à segunda geração e ainda menos chegam à terceira. Isso ocorre porque esses negócios enfrentam desafios únicos, que vão desde a gestão financeira até a sucessão, passando por conflitos internos, resistência à profissionalização e eternas discussões sobre sucessão.
Nas empresas com estruturas corporativas tradicionais, as decisões são tomadas com base em processos bem estabelecidos e por executivos sem laços afetivos. Já nas familiares é preciso equilibrar a gestão profissional com questões emocionais e históricas.
A verdade é que o sucesso inicial não garante a continuidade de um negócio familiar. Empresas familiares são construídas com muito esforço, mas, sem uma governança bem estruturada, podem desmoronar rapidamente. Conflitos entre familiares, decisões emocionais, resistência à profissionalização e problemas financeiros são apenas alguns dos desafios que ameaçam sua sobrevivência.
É nesse ponto que um Conselho Consultivo pode ser decisivo. Composto por profissionais experientes e externos à família, esse conselho auxilia a empresa a profissionalizar sua governança, a antecipar riscos e a criar valor sustentável ao longo do tempo. Isso garante que o negócio prospere independentemente da geração que estiver no comando e até mesmo durante a troca de gerações.
Embora algumas empresas vejam a implementação de um Conselho Consultivo como um custo desnecessário, na realidade, ele é um investimento estratégico. Com um direcionamento correto, o conselho fortalece a empresa, melhora sua gestão e ajuda a evitar erros que poderiam comprometer sua continuidade.
Principais Desafios das Empresas Familiares
- Gestão Financeira e Crescimento Sustentável
O controle financeiro é um dos desafios mais críticos para as empresas familiares. Muitas vezes, a mistura entre as finanças da família e da empresa dificulta uma gestão eficiente dos recursos, o que gera descontrole e dificuldades para expansão.
Algumas empresas familiares enfrentam problemas como retirada excessiva de lucros por parte dos sócios, falta de reinvestimento no negócio e decisões financeiras baseadas em interesses pessoais em vez de estratégicos. Além disso, a ausência de uma estrutura sólida de controle financeiro pode levar a problemas de endividamento e perda de competitividade, além de brigas pela gestão que alguns podem considerar fora da realidade.
Exemplo prático: Uma empresa de varejo familiar sem uma gestão financeira profissionalizada expandiu sem planejamento adequado. Isso resultou em um endividamento insustentável e necessidade de reestruturação forçada. Com a criação de um Conselho Consultivo, composto de profissionais de experiências e conhecimentos diferentes, a empresa recebeu orientação para a revisão do fluxo de caixa, renegociação de dívidas e implementação de um planejamento financeiro estruturado, garantindo sua recuperação.
- Profissionalização da Gestão
Empresas familiares muitas vezes hesitam, e isso se entende perfeitamente, em contratar gestores externos. Preferem manter a liderança dentro do núcleo familiar. Isso pode limitar a inovação e a competitividade, pois impede a empresa de se beneficiar de boas práticas de mercado e de uma visão mais ampla.
O Conselho Consultivo auxilia nisso pois oferece diretrizes imparciais para a estruturação da governança corporativa, indica a necessidade de líderes qualificados independentemente do vínculo familiar e promove critérios claros para a ocupação de cargos estratégicos, sem retirar o controle da família
Exemplo prático: Uma indústria alimentícia familiar, após insistir por anos em manter apenas membros da família na gestão, começou a perder espaço para concorrentes mais profissionalizados. Com a implementação de um Conselho Consultivo, a empresa definiu um plano de transição para trazer executivos de mercado e melhorar sua competitividade sem perder o controle ou a identidade familiar.
- Conflitos Familiares
A proximidade entre família e negócios pode ser tanto um ponto forte quanto um desafio significativo. Desentendimentos entre membros da família podem gerar impactos diretos na gestão da empresa, prejudicando a tomada de decisões e até mesmo colocando o futuro do negócio em risco.
O Conselho Consultivo pode atuar como mediador desses conflitos, garantindo que as decisões sejam tomadas com base em critérios estratégicos e técnicos, e não em disputas pessoais. Ele ajuda a empresa a criar processos claros para lidar com divergências e manter o foco no crescimento sustentável.
Exemplo prático: Uma empresa do setor imobiliário enfrentava disputas entre irmãos sobre a distribuição dos lucros e investimentos futuros. O Conselho Consultivo estabeleceu uma governança clara para evitar interferências emocionais e garantir que as decisões fossem embasadas na visão estratégica do negócio.
- Sucessão e Continuidade
A falta de planejamento sucessório é um dos principais motivos pelos quais empresas familiares não chegam à terceira geração. Muitas famílias evitam discutir o tema, deixando a transição de liderança para momentos de crise.
O Conselho Consultivo auxilia na elaboração de um plano sucessório estruturado, preparando os sucessores com antecedência, estabelecendo critérios de mérito e definindo um processo de transição suave.
Exemplo prático: Uma empresa do setor farmacêutico cujo fundador, já idoso, não havia definido claramente seu sucessor. O Conselho Consultivo ajudou a organizar um plano de desenvolvimento para os potenciais sucessores e trouxe um executivo de mercado para assumir a gestão durante o período de transição, garantindo a continuidade do negócio.
O Papel do Conselho Consultivo na Superação dos Desafios
O Conselho Consultivo é um recurso estratégico para empresas familiares que desejam crescer de forma sustentável e garantir sua continuidade. Ele não deve ser visto como um custo, mas como um investimento na profissionalização e fortalecimento da empresa. Ao trazer conselheiros externos com experiência em gestão, mercado e integridade, o conselho proporciona um ambiente de discussão estratégica e tomada de decisão baseada em fatos e boas práticas.
Os principais benefícios incluem:
- Melhoria na governança e na gestão financeira – auxilia a empresa na criação de políticas financeiras sólidas, para evitar decisões impulsivas e garanti um planejamento sustentável.
- Orientação na profissionalização da gestão – direciona a empresa para práticas modernas de gestão, e a ajuda a equilibrar a cultura familiar com a necessidade de eficiência operacional.
- Mediação de conflitos familiares – reduz tensões internas e traz um olhar neutro para a tomada de decisões estratégicas.
- Planejamento de sucessão – garante que a transição para as novas gerações seja planejada, conduzida de forma estruturada, sem comprometer a continuidade do negócio e sem nenhum tipo de surpresa.
Um Conselho Consultivo bem estruturado ajuda a empresa a crescer com segurança, gerando valor real e a preparando para o negócio e para o futuro. Empresas familiares que adotam essa estrutura aumentam sua longevidade e assim se tornam mais competitivas e resilientes no mercado.
Conclusão
A implementação de um Conselho Consultivo em empresas familiares não é apenas uma formalidade, mas uma estratégia essencial para enfrentar os desafios inerentes a esse modelo de negócio. Ao incorporar perspectivas externas, promover a profissionalização e estruturar processos de sucessão, o conselho contribui para a sustentabilidade e o crescimento contínuo da empresa.
Durante a aula de Conselhos em Empresas Familiares, ministrada pelo professor @Udo na @Board Academy, ficou evidente que a governança bem estruturada é um dos principais diferenciais das empresas que conseguem prosperar ao longo das gerações. O papel do Conselho Consultivo fortalece a tomada de decisões, reduz riscos e cria um ambiente mais propício para a inovação e o crescimento sustentável.
Diversos casos brasileiros demonstram que, com uma governança robusta e adaptada às particularidades familiares, é possível alcançar longevidade e sucesso empresarial. Empresas familiares que compreendem a importância desse conselho garantem sua continuidade e se tornam mais competitivas e resilientes no mercado.
A pergunta que fica é: sua empresa está construindo esse caminho? Ou está apenas confiando na sorte e na boa vontade dos envolvidos?
A longevidade de um negócio familiar não acontece por acaso. Se não houver um planejamento estruturado e governança forte, a empresa estará fadada aos mesmos desafios que derrubaram tantas outras ao longo dos anos.
O que sua empresa está fazendo hoje para garantir que estará forte amanhã?