Marca Pessoal e Reputação: Os Ativos Mais Subestimados da Governança e os pontos que encontrei na transição da atividade pública para a privada

Por: Dercio Carvalhêda 2 de abril de 2025

Marca Pessoal e Reputação: Os Ativos Mais Subestimados da Governança e os pontos que encontrei na transição da atividade pública para a privada

Quando se fala em governança, os ativos mais lembrados costumam ser os tangíveis: estrutura, processo decisório, indicadores, riscos, hard skills, soft skills e outras tantas competências mais fáceis de apresentar no papel.

Por outro lado, pouco se fala sobre os ativos invisíveis que sustentam e mostram tudo isso: a marca pessoal e a reputação. Você pode ser o maior e melhor investigador do mundo, mas se ninguém te conhece, você é preterido.

E não falo disso por teoria. Falo por vivência.

Durante anos, atuei na atividade pública. E mesmo com uma trajetória sólida, reconhecida por resultados técnicos e éticos, descobri que, ao migrar para o setor privado, quase tudo precisaria ser reconstruído.

A autoridade legal ficou para trás. A credibilidade pessoal, não. Mas existe um ponto muito importante: essa credibilidade não se comunica sozinha. Ela precisa ser divulgada de forma clara, objetiva e estratégica para que o mercado entenda o seu valor. E, mais que isso, reconheça esse valor.

Essa transição me ensinou muito. Testei caminhos, ajustei rotas.

E descobri que o caminho para o fortalecimento de sua marca pessoal é tão esparso e tão cheio de alternativas que muitas vezes te deixam com tantas opções que, na prática, você fica sem nenhuma estratégia. Como aprendi na Marinha: quando não se sabe para onde ir, nenhuma rota serve, qualquer porto está bom. São tantas portas que se abrem e que se fecham que, se não tiver foco, você acaba travado, sem saber qual atravessar. Sem foco, exatamente o que sempre atentei a não deixar acontecer.

Três pontos dessa transição me marcaram de forma mais forte:

1. O excesso de possibilidades paralisa.

A atuação como delegado da Polícia Federal te prepara para liderar, investigar, ensinar, analisar riscos, tomar decisões rápidas, atuar com ética, formar times. Isso te dá acesso a muitos caminhos: advocacia, compliance, investigações corporativas, treinamentos, conselhos, consultorias…

O problema é que isso, em vez de facilitar, pode te prender. Porque quem quer fazer tudo acaba não escolhendo nada.

2. A lógica do poder muda completamente.

Agilidade sempre é a palavra, na forma determinada e escolhida pelo cliente. Precisa de um sistema específico e ele custa R$ 200 mil? Se o cliente aprova no dia seguinte está na sua mesa. Na PF, espera meses por licitação, na forma determinada pela lei.

A PF, se tinha a autoridade legal, a definida pela lei. Já aqui, a autoridade aqui não advém da lei. Ela é construída com confiança, agilidade, entrega e percepção real.

Foi uma virada importante de chave.

3. A forma de aparecer inverte.

Na atividade policial, você é treinado para não ser visto. Para entrar, fazer o que precisa e sair sem deixar rastro.

Na vida privada, se você não aparecer com intenção, não é percebido como relevante.
E não estou falando de vaidade. Estou falando de posicionamento.

É nesse ponto que reputação e marca pessoal entram de verdade.

O que aprendi — e continuo aprendendo

A reputação chega antes do currículo.

No setor público, seu cargo fala por você.

No privado, sua trajetória só pesa se for percebida como coerente. E reputação não se resume ao que você diz. É o que os outros entendem e sentem quando seu nome aparece em uma reunião, em uma conversa, em uma indicação. Ela precisa ser construída com constância e verdade. Sem isso, sua escuta perde força.

A autoridade se reconstrói sem crachá.

Crachá abre portas, mas só até a hora que você entrega.

No setor privado, autoridade vem da forma como você se comunica, se posiciona e entrega. E ela precisa ser atualizada, porque o que te trouxe até aqui não vai necessariamente te levar adiante.

Exposição, quando bem feita, é responsabilidade.

Se você tem algo a dizer, tem a responsabilidade de tornar isso acessível, de forma que todos entendam. A comunicação é ainda mais importante.

Durante muito tempo, eu evitei me expor. Hoje entendo que a omissão estratégica enfraquece.

Quem não ocupa o próprio espaço com conteúdo e consistência é preenchido por percepção alheia que nem sempre justa.

Esses aprendizados se tornaram ainda mais claros para mim ao longo do programa Board 360, da @Board Academy.

Ali, a marca pessoal e a reputação são tratadas como fundamentos da atuação em conselhos, não como adereços.

Ficou evidente que não adianta dominar a técnica se o mercado não sabe quem você é, o que você representa e como você pensa.

Você pode ter um nome forte no currículo, mas é a marca pessoal que nos torna ouvidos no ambiente de decisão.

Reputação é o que nos antecede. É o que dá peso àquilo que ainda vamos dizer.

E na prática, o que fazer?

Aqui vão cinco pontos que me ajudam e que sigo praticando:

  1. Escolha uma direção. Defina um posicionamento principal. Isso não te limita. Isso te dá foco.
  2. Use o que você já viveu, mas com outra linguagem. Traduza sua história para o ambiente atual.
  3. Apareça com conteúdo. Quem só posta quando precisa vender algo não constrói percepção.
  4. Escute como é percebido. Pergunte a pessoas de confiança como sua imagem chega até elas.
  5. Construa autoridade, não apenas opinião. Conteúdo com base, vivência e entrega real é o que sustenta reputação.

E você?

Tem tratado sua reputação como ativo estratégico?

Sua marca pessoal está ajudando ou atrapalhando seus próximos passos?

Se quiser compartilhar seu caminho, sigo aqui aberto para conversas sinceras. A troca também fortalece nossa reputação.

Publicado em: 2 de abril de 2025 por