Marca Pessoal e Reputação: Os Ativos Mais Subestimados da Governança e os pontos que encontrei na transição da atividade pública para a privada
Quando se fala em governança, os ativos mais lembrados costumam ser os tangíveis: estrutura, processo decisório, indicadores, riscos, hard skills, soft skills e outras tantas competências mais fáceis de apresentar no papel.
Por outro lado, pouco se fala sobre os ativos invisíveis que sustentam e mostram tudo isso: a marca pessoal e a reputação. Você pode ser o maior e melhor investigador do mundo, mas se ninguém te conhece, você é preterido.
E não falo disso por teoria. Falo por vivência.
Durante anos, atuei na atividade pública. E mesmo com uma trajetória sólida, reconhecida por resultados técnicos e éticos, descobri que, ao migrar para o setor privado, quase tudo precisaria ser reconstruído.
A autoridade legal ficou para trás. A credibilidade pessoal, não. Mas existe um ponto muito importante: essa credibilidade não se comunica sozinha. Ela precisa ser divulgada de forma clara, objetiva e estratégica para que o mercado entenda o seu valor. E, mais que isso, reconheça esse valor.
Essa transição me ensinou muito. Testei caminhos, ajustei rotas.
E descobri que o caminho para o fortalecimento de sua marca pessoal é tão esparso e tão cheio de alternativas que muitas vezes te deixam com tantas opções que, na prática, você fica sem nenhuma estratégia. Como aprendi na Marinha: quando não se sabe para onde ir, nenhuma rota serve, qualquer porto está bom. São tantas portas que se abrem e que se fecham que, se não tiver foco, você acaba travado, sem saber qual atravessar. Sem foco, exatamente o que sempre atentei a não deixar acontecer.
Três pontos dessa transição me marcaram de forma mais forte:
1. O excesso de possibilidades paralisa.
A atuação como delegado da Polícia Federal te prepara para liderar, investigar, ensinar, analisar riscos, tomar decisões rápidas, atuar com ética, formar times. Isso te dá acesso a muitos caminhos: advocacia, compliance, investigações corporativas, treinamentos, conselhos, consultorias…
O problema é que isso, em vez de facilitar, pode te prender. Porque quem quer fazer tudo acaba não escolhendo nada.
2. A lógica do poder muda completamente.
Agilidade sempre é a palavra, na forma determinada e escolhida pelo cliente. Precisa de um sistema específico e ele custa R$ 200 mil? Se o cliente aprova no dia seguinte está na sua mesa. Na PF, espera meses por licitação, na forma determinada pela lei.
A PF, se tinha a autoridade legal, a definida pela lei. Já aqui, a autoridade aqui não advém da lei. Ela é construída com confiança, agilidade, entrega e percepção real.
Foi uma virada importante de chave.
3. A forma de aparecer inverte.
Na atividade policial, você é treinado para não ser visto. Para entrar, fazer o que precisa e sair sem deixar rastro.
Na vida privada, se você não aparecer com intenção, não é percebido como relevante.
E não estou falando de vaidade. Estou falando de posicionamento.
É nesse ponto que reputação e marca pessoal entram de verdade.
O que aprendi — e continuo aprendendo
A reputação chega antes do currículo.
No setor público, seu cargo fala por você.
No privado, sua trajetória só pesa se for percebida como coerente. E reputação não se resume ao que você diz. É o que os outros entendem e sentem quando seu nome aparece em uma reunião, em uma conversa, em uma indicação. Ela precisa ser construída com constância e verdade. Sem isso, sua escuta perde força.
A autoridade se reconstrói sem crachá.
Crachá abre portas, mas só até a hora que você entrega.
No setor privado, autoridade vem da forma como você se comunica, se posiciona e entrega. E ela precisa ser atualizada, porque o que te trouxe até aqui não vai necessariamente te levar adiante.
Exposição, quando bem feita, é responsabilidade.
Se você tem algo a dizer, tem a responsabilidade de tornar isso acessível, de forma que todos entendam. A comunicação é ainda mais importante.
Durante muito tempo, eu evitei me expor. Hoje entendo que a omissão estratégica enfraquece.
Quem não ocupa o próprio espaço com conteúdo e consistência é preenchido por percepção alheia que nem sempre justa.
Esses aprendizados se tornaram ainda mais claros para mim ao longo do programa Board 360, da @Board Academy.
Ali, a marca pessoal e a reputação são tratadas como fundamentos da atuação em conselhos, não como adereços.
Ficou evidente que não adianta dominar a técnica se o mercado não sabe quem você é, o que você representa e como você pensa.
Você pode ter um nome forte no currículo, mas é a marca pessoal que nos torna ouvidos no ambiente de decisão.
Reputação é o que nos antecede. É o que dá peso àquilo que ainda vamos dizer.
E na prática, o que fazer?
Aqui vão cinco pontos que me ajudam e que sigo praticando:
- Escolha uma direção. Defina um posicionamento principal. Isso não te limita. Isso te dá foco.
- Use o que você já viveu, mas com outra linguagem. Traduza sua história para o ambiente atual.
- Apareça com conteúdo. Quem só posta quando precisa vender algo não constrói percepção.
- Escute como é percebido. Pergunte a pessoas de confiança como sua imagem chega até elas.
- Construa autoridade, não apenas opinião. Conteúdo com base, vivência e entrega real é o que sustenta reputação.
E você?
Tem tratado sua reputação como ativo estratégico?
Sua marca pessoal está ajudando ou atrapalhando seus próximos passos?
Se quiser compartilhar seu caminho, sigo aqui aberto para conversas sinceras. A troca também fortalece nossa reputação.