Liberdade e Fidelidade: opostos ou complementares?

Por: Dercio Carvalhêda 29 de janeiro de 2025

Na sua rotina como líder, quais são os valores que guiam suas decisões mais difíceis? Já parou para pensar em como conceitos como liberdade e fidelidade, aparentemente tão opostos, podem (e devem) trabalhar juntos para sustentar escolhas éticas e responsáveis?

Há alguns anos, Aline Bruzon entrou em contato comigo para me apresentar a sua mentoria de desenvolvimento de carreiras. O excelente programa dela me trouxe diversas novidades, muitas eu nem sequer imaginava a existência e possibilidade. Uma dessas foi um teste de perfil e o estabelecimento de seus princípios fundamentais.

Esses princípios moldam atitudes, decisões e interações de uma pessoa. São valores personalíssimos e cada pessoa tem os seus principais. Descobri quais são os meus princípios fundamentais, mas neste artigo, quero refletir sobre dois que são fundamentais para mim: Liberdade e Fidelidade.

Liberdade e fidelidade podem parecer, à primeira vista, conceitos contraditórios. Enquanto a liberdade remete à autonomia, à capacidade de decidir e agir sem imposições; a fidelidade nos leva à ideia de compromisso, lealdade e obrigações assumidas. Contudo, esses dois princípios, quando bem e profundamente analisados, sustentam a base para escolhas éticas e consistentes, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.

No campo do compliance e das investigações, essa complementaridade é ainda mais evidente. Esses valores fornecem o alicerce para decisões que equilibram autonomia com responsabilidade, promovendo a ética como um guia para a governança corporativa e a justiça.

Liberdade: Escolhas conscientes e éticas

A liberdade, em seu sentido mais profundo, não é ausência de restrições. Pelo contrário: é a capacidade de fazer escolhas fundamentadas, conscientes e éticas. Num contexto organizacional, ela pode se traduzir em ambientes que capacitam indivíduos a agir alinhados às políticas e aos valores corporativos, mesmo sem supervisão constante.

Um programa de compliance efetivo promove a liberdade ao dar às pessoas autonomia para tomar as decisões certas por convicção e não por medo de punições ou porque o sistema só permite que o procedimento seja seguido à risca (o controle rígido).

Imagine um colaborador que identifica uma irregularidade em sua empresa. Um programa de compliance bem estruturado dará a ele a liberdade de denunciar o problema sem medo de represálias, mas também reforça a fidelidade como compromisso ético de proteger a organização. Esse equilíbrio é o que constrói confiança entre os times e fortalece a integridade corporativa. É nesse equilíbrio que a confiança e a ética organizacional prosperam.

Quando os colaboradores entendem os princípios que regem sua organização, eles ganham confiança para agir com integridade, contribuindo para um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo, independente de vigilância.

Fidelidade: Compromisso com a verdade e a justiça

Se a liberdade abre caminhos para a autonomia, a fidelidade oferece o norte que orienta essas escolhas. Fidelidade significa lealdade às verdades fundamentais, aos compromissos assumidos e à ética.

Nas investigações corporativas, a fidelidade é essencial. Ela se manifesta no compromisso com a imparcialidade, na aderência aos fatos e na busca pela justiça. Um investigador comprometido com a fidelidade não se deixa influenciar por interesses externos ou pressões, garantindo que os resultados de seu trabalho sejam transparentes e confiáveis.

Nas investigações internas, a liberdade de explorar diferentes linhas de apuração é essencial para descobrir a verdade. Contudo, essa liberdade deve ser guiada pela fidelidade aos fatos e ao compromisso ético. Por exemplo, ao investigar uma suspeita de fraude, o investigador pode se deparar com diversas narrativas e pressões externas. Manter a fidelidade significa seguir os indícios com imparcialidade, sem se deixar influenciar por interesses que poderiam comprometer a integridade do resultado.

O equilíbrio entre liberdade e fidelidade

Quando combinados, liberdade e fidelidade formam um equilíbrio que permite escolhas responsáveis. No contexto do compliance, os valores da organização devem estar sempre alinhados à ética.

Para líderes, esse equilíbrio é crucial. Liberdade sem fidelidade pode levar a decisões impulsivas ou desconectadas dos valores organizacionais, enquanto fidelidade sem liberdade pode sufocar a inovação e engessar a tomada de decisão. Um CEO que promove a autonomia em sua equipe, ao mesmo tempo que fomenta alinhamento aos valores da organização, fortalece a cultura ética e cria um ambiente de confiança e inovação.

Sem liberdade, a fidelidade pode se tornar mero conformismo. Sem fidelidade, a liberdade pode levar ao caos. Apenas juntos, esses princípios geram um ambiente onde a ética floresce e as organizações prosperam de maneira sustentável.

Não se pode confundir liberdade com libertinagem; não se pode confundir fidelidade com submissão.

Liberdade e fidelidade não são apenas conceitos teóricos, mas valores que orientam escolhas diárias e moldam culturas organizacionais. No compliance e nas investigações, eles representam o equilíbrio entre agir com autonomia e manter o compromisso com a ética e a verdade.

Como você aplica esses princípios no seu dia a dia? Reflita sobre as escolhas que você faz e os compromissos que assume. Repito para sempre ser lembrado: liberdade sem fidelidade é apenas ilusão; e fidelidade sem liberdade é mera submissão.

Liberdade e fidelidade são como as asas que nos permitem voar alto, mas sempre guiados por um propósito. Que decisões você toma hoje para que essas asas o conduzam para o caminho certo, tanto no trabalho quanto na vida?

Publicado em: 29 de janeiro de 2025 por