Na sua rotina como líder, quais são os valores que guiam suas decisões mais difíceis? Já parou para pensar em como conceitos como liberdade e fidelidade, aparentemente tão opostos, podem (e devem) trabalhar juntos para sustentar escolhas éticas e responsáveis?
Há alguns anos, Aline Bruzon entrou em contato comigo para me apresentar a sua mentoria de desenvolvimento de carreiras. O excelente programa dela me trouxe diversas novidades, muitas eu nem sequer imaginava a existência e possibilidade. Uma dessas foi um teste de perfil e o estabelecimento de seus princípios fundamentais.
Esses princípios moldam atitudes, decisões e interações de uma pessoa. São valores personalíssimos e cada pessoa tem os seus principais. Descobri quais são os meus princípios fundamentais, mas neste artigo, quero refletir sobre dois que são fundamentais para mim: Liberdade e Fidelidade.
Liberdade e fidelidade podem parecer, à primeira vista, conceitos contraditórios. Enquanto a liberdade remete à autonomia, à capacidade de decidir e agir sem imposições; a fidelidade nos leva à ideia de compromisso, lealdade e obrigações assumidas. Contudo, esses dois princípios, quando bem e profundamente analisados, sustentam a base para escolhas éticas e consistentes, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional.
No campo do compliance e das investigações, essa complementaridade é ainda mais evidente. Esses valores fornecem o alicerce para decisões que equilibram autonomia com responsabilidade, promovendo a ética como um guia para a governança corporativa e a justiça.
Liberdade: Escolhas conscientes e éticas
A liberdade, em seu sentido mais profundo, não é ausência de restrições. Pelo contrário: é a capacidade de fazer escolhas fundamentadas, conscientes e éticas. Num contexto organizacional, ela pode se traduzir em ambientes que capacitam indivíduos a agir alinhados às políticas e aos valores corporativos, mesmo sem supervisão constante.
Um programa de compliance efetivo promove a liberdade ao dar às pessoas autonomia para tomar as decisões certas por convicção e não por medo de punições ou porque o sistema só permite que o procedimento seja seguido à risca (o controle rígido).
Imagine um colaborador que identifica uma irregularidade em sua empresa. Um programa de compliance bem estruturado dará a ele a liberdade de denunciar o problema sem medo de represálias, mas também reforça a fidelidade como compromisso ético de proteger a organização. Esse equilíbrio é o que constrói confiança entre os times e fortalece a integridade corporativa. É nesse equilíbrio que a confiança e a ética organizacional prosperam.
Quando os colaboradores entendem os princípios que regem sua organização, eles ganham confiança para agir com integridade, contribuindo para um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo, independente de vigilância.
Fidelidade: Compromisso com a verdade e a justiça
Se a liberdade abre caminhos para a autonomia, a fidelidade oferece o norte que orienta essas escolhas. Fidelidade significa lealdade às verdades fundamentais, aos compromissos assumidos e à ética.
Nas investigações corporativas, a fidelidade é essencial. Ela se manifesta no compromisso com a imparcialidade, na aderência aos fatos e na busca pela justiça. Um investigador comprometido com a fidelidade não se deixa influenciar por interesses externos ou pressões, garantindo que os resultados de seu trabalho sejam transparentes e confiáveis.
Nas investigações internas, a liberdade de explorar diferentes linhas de apuração é essencial para descobrir a verdade. Contudo, essa liberdade deve ser guiada pela fidelidade aos fatos e ao compromisso ético. Por exemplo, ao investigar uma suspeita de fraude, o investigador pode se deparar com diversas narrativas e pressões externas. Manter a fidelidade significa seguir os indícios com imparcialidade, sem se deixar influenciar por interesses que poderiam comprometer a integridade do resultado.
O equilíbrio entre liberdade e fidelidade
Quando combinados, liberdade e fidelidade formam um equilíbrio que permite escolhas responsáveis. No contexto do compliance, os valores da organização devem estar sempre alinhados à ética.
Para líderes, esse equilíbrio é crucial. Liberdade sem fidelidade pode levar a decisões impulsivas ou desconectadas dos valores organizacionais, enquanto fidelidade sem liberdade pode sufocar a inovação e engessar a tomada de decisão. Um CEO que promove a autonomia em sua equipe, ao mesmo tempo que fomenta alinhamento aos valores da organização, fortalece a cultura ética e cria um ambiente de confiança e inovação.
Sem liberdade, a fidelidade pode se tornar mero conformismo. Sem fidelidade, a liberdade pode levar ao caos. Apenas juntos, esses princípios geram um ambiente onde a ética floresce e as organizações prosperam de maneira sustentável.
Não se pode confundir liberdade com libertinagem; não se pode confundir fidelidade com submissão.
Liberdade e fidelidade não são apenas conceitos teóricos, mas valores que orientam escolhas diárias e moldam culturas organizacionais. No compliance e nas investigações, eles representam o equilíbrio entre agir com autonomia e manter o compromisso com a ética e a verdade.
Como você aplica esses princípios no seu dia a dia? Reflita sobre as escolhas que você faz e os compromissos que assume. Repito para sempre ser lembrado: liberdade sem fidelidade é apenas ilusão; e fidelidade sem liberdade é mera submissão.
Liberdade e fidelidade são como as asas que nos permitem voar alto, mas sempre guiados por um propósito. Que decisões você toma hoje para que essas asas o conduzam para o caminho certo, tanto no trabalho quanto na vida?