É possível calcular, matematicamente, o valor ético de uma decisão. Isso muda tudo.
Imagine o dilema:
Um executivo-chave da empresa comete uma conduta pessoal polêmica — fora do trabalho, sem ilegalidade — mas que, se exposta, pode arranhar seriamente a reputação da marca.
Duas opções surgem:
- Afastá-lo, em nome da imagem institucional.
- Mantê-lo, defendendo a separação entre vida pessoal e profissional.
Qual é a mais ética? Continue a ler que te respondo.
Achou simples? Será mesmo?
Todos os dias, executivos, conselheiros e líderes enfrentam decisões difíceis. Algumas carregam dilemas morais tão complexos que não cabem nem em relatórios e nem em planilhas. E, mesmo assim, precisam ser tomadas.
O problema é que muitas decisões são tratadas apenas com intuição, como se coerência ética fosse um dom, mas não é.
A aplicação da decisão em relação aos princípios éticos da empresa de forma coerente tem estrutura racional, lógica. Até os que acreditam que se trata de experiência, feeling, dom seguem algum tipo de lógica. Pode ser oculta, inconsciente, mas ainda assim lógica.
Mas, se há uma estrutura por trás de uma decisão, então há lógica. E se há lógica, é possível calcular. A matemática embasa a coerência ética de uma decisão.
Foi com essa pergunta que nasceu o Diagnóstico Ético Aplicado™, uma metodologia que transforma o julgamento da decisão em um processo estruturado, lógico e comparável, sem perder a profundidade dos valores que o fundamentam.
A proposta é simples de explicar, mas poderosa em sua aplicação: em vez de dizer qual é a “decisão certa”, a ferramenta avalia, com base em princípios previamente definidos, quais dentre as alternativas é a mais eticamente coerente.
Cada dilema é um jogo e toda jogada tem impacto
Toda decisão é, na prática, um jogo estratégico entre vários princípios em tensão, pressões contextuais e possíveis consequências futuras. Por exemplo, às vezes, a decisão que preserva a integridade pode custar influência política; ou a que preserva a sustentabilidade do negócio, pode causar demissão. Em outras, a que evita um dano pode sacrificar a liberdade. Então, como escolher a correta?
Esse cenário de múltiplas variáveis encontra eco direto na Teoria dos Jogos, desenvolvida por John Nash. Seu conceito de equilíbrio — o ponto em que nenhum agente pode melhorar seu resultado se mudar de estratégia isoladamente, desde que os demais mantenham as suas — ajuda a entender como a ética pode ser otimizada sob restrições reais.
Aqui o foco está na estabilidade estratégica individual, não na eficiência coletiva. E essa estabilidade são os princípios éticos e morais pessoais ou da empresa.
Não é julgamento, é coerência.
É exatamente isso que o Diagnóstico Ético Aplicado™ tenta oferecer: uma leitura do ponto de estabilidade ética, ou ponto de coerência. A decisão se mantém coerente mesmo diante de cenários complexos e até mesmo antagônicos porque se mantem equilibrada.
O Diagnóstico Ético Aplicado™ funciona como uma ferramenta para encontrar a decisão que sustenta um equilíbrio ético, respeitando os próprios princípios ao máximo possível, sem se esquecer do contexto.
Decisões éticas são racionais, mas nem sempre lógicas
Herbert Simon, ganhador do Nobel, foi um dos primeiros a reconhecer que tomadores de decisão não operam com racionalidade plena. Segundo ele, estamos sempre limitados por tempo, informação e contexto.
O Diagnóstico Ético Aplicado™ reconhece esse limite. Por isso, em vez de buscar a perfeição inexistente, ele estrutura um raciocínio lógico-matemático que, mesmo dentro do caos, orienta à coerência.
O método em si: lógica a serviço do propósito
A metodologia funciona assim: a empresa (ou o decisor) define seus princípios éticos. Cada possibilidade de decisão é avaliada conforme seu impacto sobre cada princípio, usando três coeficientes contextuais:
· Visibilidade: o quanto a decisão é percebida pelos stakeholders;
· Reversibilidade: o quanto essa decisão pode ser revertida; e
· Elasticidade: essa decisão confirma ou nega tal princípio.
O resultado dessa equação é o CET: Coerência Ética Total.
Para cada possibilidade de decisão considerada, o método avalia o impacto sobre cada princípio ético relevante, usando essas três variáveis. Esses fatores são ponderados com pesos próprios e o resultado é um índice numérico de coerência ética.
Quanto maior o número, mais alinhada está a decisão aos valores que a organização declara defender. Dessa forma, estabelece-se uma nota e uma classificação de cada decisão, com as suas devidas justificativas.
Perfeito? Não. E ainda bem. O fator humano, com seu livre-arbítrio, nunca será totalmente previsível. Mesmo decisões coerentes podem ser tomadas por quem age de forma incoerente, e o contrário também.
E é assim, porque só pode ser assim. Amartya Sen, em The Idea of Justice, afirmou que a justiça prática não exige perfeição, mas sim uma comparação coerente entre alternativas. Na verdade, uma decisão perfeita não existe: quando se escolhe algo, renuncia-se a outro. No caso das escolhas que impactam nos princípios, isso não é diferente: um princípio sempre será mais elevado que outro.
Em outras palavras: o importante não é descobrir o “certo absoluto”, mas entender qual decisão se mantém mais fiel aos valores assumidos, mesmo sob imperfeições.
Voltando ao exemplo do início: qual decisão é mais ética? Essa nem é a pergunta certa. A pergunta real é: qual decisão está mais coerente com os princípios que defendemos?
Depende dos princípios.
· Se a empresa prioriza reputação e responsabilidade social, a 1 é coerente.
· Se prioriza liberdade individual e competência técnica, a 2 faz mais sentido.
O mesmo caso. Decisões opostas. Ambas corretas, se coerentes com os princípios da organização.
O Diagnóstico Ético Aplicado™ não julga: mede a coerência entre o discurso e a prática. E revela o porquê da escolha.
Ética sem propósito é só política de compliance
Mas não se trata apenas de lógica. No coração do método está uma pergunta essencial: Por que você quer tomar essa decisão?
Essa pergunta é o centro da teoria de liderança de Simon Sinek, que afirma que integridade É a consistência entre o discurso e a prática, entre o que se diz e o que se faz. Quando um líder ou uma organização articulam seu “porquê” e agem de acordo com ele, a integridade se torna um resultado natural.
O Diagnóstico Ético Aplicado™ leva o líder a fazer um alinhamento. Ao calcular o impacto de uma decisão em relação aos princípios que a empresa declara seguir, o método mostra se existe coerência real ou se é só discurso.
Nem tudo que é legal é legítimo
O papel do Diagnóstico Ético Aplicado™: trazer à superfície os valores que estão implícitos, e confrontá-los com a realidade das ações propostas. Em vez de delegar a decisão à conveniência ou à tradição, a metodologia provoca um posicionamento racional e ético com base em dados, lógica e consciência.
Conclusão
Ética não é um instinto refinado. É uma estrutura de coerência. E com o avanço das ferramentas analíticas, não há mais desculpa para lideranças que tomam decisões importantes sem considerar seus impactos morais de forma estruturada.
Decidir eticamente não é sobre ter razão. É sobre ter coerência.